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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DESENVOLVIMENTO MORAL

A escola é a principal instituição formadora de cidadão onde se é repassado os conhecimentos e os valores acumulados historicamente pelas sociedades passadas. Nesta primeira década do início do novo milênio, devido à revolução científica, tecnológica e de informação esses conhecimentos têm se acumulado de uma forma avassaladora. Não dando tempo ao sistema educacional promover as mudanças necessárias para acompanhar essas evoluções. Da mesma forma os valores, através dos meios de comunicação de massa, têm se modificados de uma maneira muito incomum. O desenvolvimento moral de crianças e adolescentes entra cada vez mais em pauta quando se assiste nos noticiários os mais tristes casos de agressões verbais e físicas entre esses jovens, ou com seus pais ou professores.
Neste ínterim, vale ressaltar também que a família, conforme pressupõe Piaget, é a principal responsável pela ‘moral do dever’ ou heteronomia, e ainda Konlberg quando fala do nível pré-convencional, onde as regras morais derivam da autoridade.
Que autoridade se pode esperar de pais ausentes, que priorizam suas carreiras profissionais em detrimento da família? FREITAS , afirma que “As normas, as opiniões e os valores de seus pais têm um valor absoluto para a criança: ela busca imitá-los, assume os seus pontos de vista e adota a sua escala de valores. É porque a criança os respeita que ela acata o que eles dizem.”
Quando criança, as ordem emanadas dos adultos, embora contraditórias são aceitas, pois as crianças consideram os adultos como seus superiores. Com o passar dos anos, na adolescência, esse conceito muda. A criança passa a ver os adultos como seus iguais (e não mais como superiores), desenvolve-se, ao lado da coação social, uma outra forma de relação inter-individual: a cooperação. A autora , baseando-se em Piaget argumenta
Enquanto para as crianças pequenas tudo o que é solicitado ou determinado pelo adulto é justo, para as maiores e principalmente para os adolescentes, o justo é definido pelo princípio de igualdade. Aquele que pensa que tudo o que é determinado pela autoridade é justo (e pouco importa qual seja o conteúdo dessa determinação, podendo ser até mesmo a regra de reciprocidade) carece da autonomia requerida pela verdadeira noção de justiça: "...a justiça só tem sentido se ela é superior à autoridade" (IBID)

Se com a idade o respeito muda da natureza, o que dizer de pais que criam para seus filhos, na primeira infância, um mundo de fantasias, acompanhado de enormes sacrifícios.
Ou ainda que autoridade esperar de pais que jamais puderam dá aos seus filhos, por falta de uma situação financeira melhor, o que a propaganda massiva impõe como indelével? Às vezes, essas famílias não tem mesmo nem o básico para sobreviver como comida, moradia, saúde, educação, segurança... e precisam garimpar dia após dia os seus sustentos, inclusive utilizando da força de menores para conseguir os seus alimentos.
O resultado dessa situação de pobreza e alienação a que estar submetida boa parte das famílias brasileira se percebe no aumento da violência, no consumo de drogas lícitas e ilícitas e na baixa auto-estima dessas crianças e jovens.
Mas como resgatar dessa situação horripilante em que se encontram esses jovens, já que a escola, segundo o próprio Piaget, não deve trabalhar a educação moral como matéria especial de ensino. Para o próprio Piaget, as crianças e os jovens devem vivenciar a moralidade em todos os aspectos e ambientes presentes na escola. Para ele, educar moralmente é proporcionar à criança situações onde ela possa vivenciar a cooperação, a reciprocidade e o respeito mútuo. Dentro da escola isso é possível através dos trabalhos em grupos.
DIAS , Psicóloga, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba, Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense e Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal da Paraíba em seu artigo ratifica:
Isto implica a revisão dos paradigmas educacionais e, consequentemente, a busca de um novo fundamento axiológico que tensione esse novo modelo societal e que aponte na direção da construção de novos valores educativos pautados na solidariedade e na cooperação, em contraposição ao individualismo, à competição e à fragmentação das pessoas, desencadeados pela chamada sociedade da informação.
Esta autora cita quatro princípios básicos, confirmando o pensamento de Piaget, baseando-se nas idéias de Arbuthnot e Faust (1981) onde orientam a ação do professor, quando da condução da discussão em grupo sobre problemas sócio-morais:
1) Facilitar o desenvolvimento: a educação moral deve ter como meta a elevação do nível de raciocínio moral; 2) O papel dos desequilíbrios: o desenvolvimento moral é estimulado pela criação e vivência de conflitos sócio-cognitivos e não através do ensino direto da moral; 3) Dimensão do papel do educador: na educação moral, o papel do professor é o de arquitetar experiências capazes de estimular a auto-descoberta de estágios mais altos; 4) Diretrizes éticas: o educador deve garantir que os direitos dos indivíduos (quanto a participar ou não de atividades, quanto à adoção de qualquer sistema de valor ou crença, sem temor ou represália) devem ser protegidos. (Ibid)

A mesma autora, utiliza-se do pensamento de Kohlberg e Turiel para confirma que os conflitos são importantes no desenvolvimento moral das crianças. O primeiro afirma que “o desenvolvimento moral obedece a uma seqüência progressiva e invariante de estágios, cujo fator promocional de mudança de um estágio inferior a outro, qualitativamente superior, é o conflito cognitivo.” O segundo também tem a mesma linha de pensamento já que, “o processo de vivência do conflito sócio-cognitivo caracteriza-se pela desestruturação e reestruturação cognitiva e se realiza internamente. (...) onde o participante é forçado a lidar com novos conceitos”.
E na família como seria essa vivência para os jovens construírem sua moralidade, já que conforme anteriormente citado, seus pais estão ausentes, e o principal meio de difusão do conhecimento, além dos seus inexperientes colegas, é a TV? Diante da TV, é onde passam a maioria do tempo livre. SOUSA , em seu artigo afirma que
É deprimente ver um ser humano se despir em uma novela de televisão ou cinema, ou em poster fotográfico com o objetivo de ganhar dinheiro para sobrevivência. Isto denota, não a beleza de uma cena sensual, mas a vulgaridade de um ato comum a dois, agora, divulgado para milhões de pessoas sentirem a privacidade de uma criação da natureza, pois isto é uma insinuação para aqueles que ainda, devido à idade, não conhecem as descobertas do corpo humano para a vida.

Para ele,
Entra em cena toda esta situação de libertinagem sexual, infidelidade conjugal, promoções obscenas, e uma gama muito grande de libertinagem que não constrói nada, a única coisa que deixa plantada é uma semente de depravação que aniquila a moral, os bons costumes e, sobretudo, a integridade humana.
O mesmo autor faz suas ponderações dizendo

Os trabalhos de televisão não são de todo condenáveis, o mesmo ocorre com o cinema, os out doors, ou qualquer sistema de divulgação. A questão é como estão sendo veiculadas as suas atividades e divulgadas àqueles que ainda não despertaram para a vida. As coisas devem ser feitas de maneira e em local, onde as pessoas são conscientes para não haver distorção dos fatos, de tal modo que a moral e a ética, sejam preservadas a uma elevação da família, e não uma dizimação das raças a troco de nada, mas em busca da infelicidade dos povos. (Ibid)


Ainda no tocante ao desenvolvimento moral, é sabido que em todas as culturas o homem recebe uma formação diferenciada àquela ensinada para a mulher em vários quesitos. Desde os primórdios da história o homem se responsabilizou pelo sustento do grupo, onde tinha a incumbência da caça, da pesca, da coleta de frutos e raízes e da guerra. O homem acostumou-se logo cedo a desbravar o mundo a sua volta e a estar em constante sentinela para garantir sua sobrevivência. Para a mulher restava cuidar da casa e dos filhos. Nos tempos atuais desde o nascimento este comportamento ainda é transmitido dos pais para os filhos. As cores de suas vestimentas denunciam isso. Para o homem o azul, (representando o céu as conquistas), o verde (as florestas), o amarelo (o ouro). Para a menina o róseo (representado as rosas, a delicadeza, a sensibilidade). Ao nascerem os homens são instigados a não chorarem, serem duros e competitivos. Com as meninas ocorre o contrário.
LEITÃO , em seu artigo, evidencia esses traços culturais, baseando-se em vários autores, quando diz que sua pesquisa
(...) tem demonstrado que a orientação moral feminina focaliza predominantemente em cuidado e preocupação por outras pessoas enquanto que a orientação moral masculina enfatiza predominantemente princípios abstratos de justiça. Tais considerações, portanto, sugerem que, quando os problemas morais ocorrem num contexto interpessoal, indivíduos do sexo feminino são mais prováveis de expressar culpa do que indivíduos do sexo masculino.
Considerando-se as teorias de Gilligan e Chodorow, pode-se argumentar que as mulheres desenvolvem um senso moral baseado primariamente em relacionamentos e que, portanto, elas mais provavelmente expressam culpa interpessoal do que os homens.
Meninas brincam mais no coletivo, utilizando de bonecas e tralhas domésticas espelhando principalmente em suas mães ou cuidadoras, enquanto meninos são mais individualistas, (brincam de motorista, de mecânico) espelhando-se nos pais, ou competitivos (brincam de esconde-esconde, pega-pega). A autora citada confere que
As mulheres desenvolvem uma concepção de self centrada principalmente em interdependência e conexão com os outros, enquanto que os homens desenvolvem uma concepção de self fundamentada principalmente em objetividade e separação. (...) para a menina a mãe é um outro do seu próprio sexo, enquanto que para o menino ela é um outro do sexo oposto. A mãe é, portanto, o objeto de identificação sexual para a filha. Parece plausível, pois, argumentar que a menina teria uma identificação mais forte com sua mãe do que o menino (e que a mãe se identificaria mais com sua filha do que com seu filho). Em contraste, o menino, embora em alguma extensão identificado com sua mãe amada, é também impulsionado pela necessidade crucial de se "des-identificar" dela (Greenson, 1968) a fim de garantir sua masculinidade. Em consistência com a tradicional atribuição de características e papéis a cada sexo, existe evidência de que meninas apresentam um padrão mais cooperativo de interação em grupos enquanto que meninos apresentam um estilo mais competitivo. (...) indivíduos do sexo feminino desenvolvem uma compreensão moral não-egocêntrica devido a suas experiências de vínculo e conexão com os outros. (IBID)
Pensar no desenvolvimento moral de nossos jovens requer, portanto, uma mudança drástica no comportamento de toda sociedade brasileira. Precisam juntar esforços pais, professores, igrejas, sociedade civil organizada e sociedade em geral num esforço comum de mudança de atitude para que no futuro logremos algum resultado satisfatório.

Referência bilbiográfica
DIAS, Adelaide Alves. Educação moral para a autonomia. Psicol. Reflex. Crit. v.12 n.2 Porto Alegre 1999.

FREITAS , Lia Beatriz de Lucca. Do mundo amoral à possibilidade de ação moral. Psicol. Reflex. Crit. v.12 n.2 Porto Alegre 1999

LEITÃO, Heliane de Almeida Lins. Diferenças sexuais no desenvolvimento da preocupação moral por outras pessoas: um estudo empírico da expressão de emoções morais em crianças.
Psicol. Reflex. Crit. v.12 n.1 Porto Alegre 1999.

SOUSA, Luis Gonzaga de. Ética e cidadania. (acessado em: http://www.eumed.net/libros/2006a/lgs-etic/1t.htm)

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